terça-feira, 10 de maio de 2011

O Angolano e o Thomas Paine


-….
- Visão quê?
- Visão democrática.
- De quem?
- Thomas Paine.
- Thomas quê?
- Thomas Paine.
- É angolano?

- Não, não é. Com este nome seria muito difícil, mas bem poderia sê-lo. Seria da nova geração. Da nova geração de angolanos que nascem em Londres ou Nova Iorque cujos pais optam por um nome de lá para “internacionalizar e globalizar” os seus filhos, da geração que quer um país organizado, um país no qual as pessoas são valorizadas e julgadas pelo seu carácter, independentemente da origem, raça, credo religioso, filiação partidária. Da geração sabe que a melhor riqueza do seu país é a pessoa humana, que os verdadeiros jazigos de diamantes e minas de ouro e prata são as pessoas, que tudo o resto é complementar. Da geração que vai às manifestações de livre e espontânea vontade, e não vai por pressão de quem quer que seja. Da geração que viveu e continua a viver de certa forma a ditadura, e acredita que ela não é a nossa sina. Da geração que se orgulha da dedicação e esforço dos KOTAS na luta pela libertação de Angola, mas que também não aceita nem admite que alguns KOTAS brinquem com a sua inteligência. Da geração que está para o que der e vier, e sabe lá no fundo que, somos mais ricos na diversidade, somos mais completos na unidade. Quem foi Thomas Paine? Thomas Paine foi um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América. Britânico de origem, Paine emigrou para as colónias britânicas na América do Norte aos 37 anos de idade, participando activamente na revolução americana, contribuiu de forma incansável no processo que culminou com a independência dos Estados Unidos da América do Reino da Grã-Bretanha em 1776. Tanto mais que quando se fala da Revolução Americana, um dos primeiros nomes que aparece, é Thomas Paine. Ele também marcou presença na Revolução Francesa. Que relação entre Thomas Paine e os Angolanos? Porque trago Thomas Paine à baila? Simplesmente, pelo facto de ele ter escrito um livro que eu considero muito interessante. O livro chama-se “Common Sense” que em português significa “Senso Comum”. “Senso Comum” é um hino à liberdade, à democracia e à justiça social, bastante criticada no seu tempo, é uma obra que ficou na história mais pelo seu lado positivo do que o negativo.

- Eu sou mwangolé. O que é que tenho a ver com isso?

- Pois, aí é que está, “Senso Comum” é uma obra que bem poderia ter sido escrita em pleno século XXI por um angolano que sentisse que a democracia em Angola é uma fachada; por um angolano que sentisse que existe abuso de poder em Angola; por um angolano cansado de ter medo de perder os seus direitos e liberdades por expressar as suas opiniões. Um angolano esclarecido e comprometido com valores universais, certamente, escreveria “Senso Comum” baseado, como é lógico, na nossa realidade. “Senso Comum” escrito há mais de um século atrás, parece tão actual e ajusta-se, com a justa distância, tão bem a nossa realidade que, eu cheguei a desejar que Thomas Paine tivesse nascido em Angola. Há Thomas Paines em Angola? Com mesma visão e não só? Acredito que sim. Precisamos deles.

- Ok, já percebi. Tu queres que o Thomas Paine seja o Presidente de Angola.

- Não percebeste nada. Estou a falar da visão democrática…epá, estou cansado, amanhã, explico-te melhor. Um abraço.

- Humm…