sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

É o nosso tempo!


Escrevi estas linhas com o intuito de dedicá-las à juventude angolana, mas não podia, por uma questão de respeito e consideração, antes de mergulhar no artigo, deixar de dar primazia aos nossos mais velhos que lutaram pela independência deste país e agradecê-los por tudo o que fizeram pela pátria angolana. É fundamental, deixar claro que nós jovens angolanos estamos eternamente agradecidos e orgulhosos de toda a vossa dedicação e empenho pela luta de libertação de Angola. Sejais vós do MPLA, da UNITA, da UPA, da FNLA, sejais vós, aqueles que na clandestinidade contribuíram para a nossa autodeterminação e independência, só queria dizer-vos muito obrigado, muito obrigado mesmo.
Mergulhando no artigo, começo por dizer que nós, jovens angolanos, temos uma missão. Uma missão que exige duas coisas inegociáveis, patriotismo e compromisso. Estamos no ano 2010 e, embora estejamos acerca de trinta anos independentes, oito anos de paz, muita coisa precisa de ser feita em prol do desenvolvimento da nação angolana. Seria injusto esperar que, em menos de uma década os grandes problemas da nação fossem resolvidos, isso seria irrealista e pouco objectivo. Estou convencido de que o país precisa de avançar. Indiscutivelmente. Mas, coloca-se a seguinte questão, será que os actuais dirigentes do país têm suficiente bagagem ética, moral, espiritual e intelectual para estabelecer as bases para a construção d’Angola do futuro? Pessoalmente, penso que não, porque já passamos pela 1ªRepublica, pela 2ªRepública, agora estamos na 3ªRepublica, mas, os governantes são os mesmos de sempre.
Me perguntarão, mas o que é Angola do Futuro, responderei que Angola do futuro é àquela na qual a justiça social reina na sociedade, é aquela na qual a democracia é uma pratica institucional e não um discurso institucional, é aquela na qual a sociedade civil é dinâmica e muito mais participativa, é aquela na qual o ensino é de muita qualidade, é aquela na qual a juventude esteja virada para coisas positivas, em vez de maratonas e intermináveis bebedeiras, é aquela na qual os universitários dedicam-se fervorosamente à pesquisa e à investigação. Na Angola do futuro, o sistema de saúde robusto e funcional, abrangente a todos os angolanos. Na Angola do futuro, a comunicação social pública é, definitivamente, apartidária. O sistema judicial, na Angola do futuro, será implacável para todos os criminosos sejam eles de colarinho branco ou não, sejam eles governantes ou governados. Esta é a minha humilde opinião sobre a definição de Angola do futuro. Demasiado sonhador? Pois, eu também “have a dream”.
Evidentemente, a Angola do futuro não surge do nada, e claro, nem cai do céu, mas, podemos pedir ao criador do universo que nos ilumine e nos dê forças para essa grande empreitada. Na verdade, a empreitada já começou, só que alguns aspectos dessa empreitada estão mal direccionados, vejamos:
- Que país no seu perfeito juízo gasta tantos milhões de dólares em organizar campeonatos de Futebol, quando as suas crianças vêm ao mundo em condições precárias e estudam em escolas abomináveis?
- Não se pode, de maneira nenhuma, se quisermos uma verdadeira democracia, concentrar demasiados poderes num só homem. Isso não acontecia na Idade Média?
- Uma sociedade que se quer saudável não pode, de modo algum, dar mais importância ao TER do que ao SER. Principalmente, se esse TER é de origem duvidosa.
- Não se pode passar aos jovens a ideia de que devemos ser imediatistas.
- É preciso que seja dito aos adolescentes e jovens angolanos que as bebidas alcoólicas são drogas. Aqui urge criar leis claras quanto à idade de consumo.
- Uma sociedade que se quer saudável não pode, absolutamente não, abandalhar os seus idosos e demonizar as suas crianças. Isso não faz sentido!
- Uma sociedade saudável não pode manter certos dramas do passado inexplicáveis. Como exemplo, temos os acontecimentos do 27 de Maio de 1977. Penso sinceramente que, já é hora de se fazer algo semelhante ao que se fez na África do Sul em relação às vítimas e aos carrascos do Apartheid.
- Uma nação saudável não pode promover assimetrias e desigualdades regionais, quanto ao desenvolvimento.
- …
Mas, afinal, o que, onde, como, e quando poderíamos contribuir para o desenvolvimento de Angola?
Para começar, diria que, devemos nos dedicar mais aos estudos, ao trabalho, à família e aos amigos. Esse seria o grande pontapé de saída. Partindo do pressuposto de que com os estudos teremos a formação académica e profissional. Com o trabalho ganhamos mais experiência e excelência, com a família tornaremos a nossa sociedade mais coesa e saudável. Essa coesão há-de se reflectir de forma muito positiva nas relações intrafamiliares e interfamiliares, e na sociedade como um todo que, estará mais compenetrada no cumprimento dos seus deveres e obrigações.
O segundo grande passo é conhecermos a história de Angola, sob várias perspectivas. Penso que é importantíssimo para os jovens angolanos conhecer a história do nosso país. É uma obrigatoriedade de um verdadeiro patriota. Falo de conhecê-la sem preconceitos, sem medo de escutar de todos os intervenientes, sem medo de consultar as mais diferentes fontes de informação.
É preciso desmitificar muitas coisas que nos foram incutidas no tempo da guerra. Durante o período de guerra, todo o mundo queria puxar a sardinha para a sua brasa, e ninguém aceitou ser chamado à razão, e à realidade que, não era nada mais, nada menos do que o sofrimento das populações angolanas. Não se trata de apontar o dedo a culpados, mas sobretudo perceber os contextos históricos, sociais, políticos e ideológicos nos quais em que ocorreram os eventos que marcam a contemporaneidade de Angola. A percepção de todos esses contextos é um acto de patriotismo que, por conseguinte, nos permitirá entender melhor o actual estado de coisas. E, entendendo o estado actual de coisas, permitir-nos-á perspectivar o melhor e o mais recomendável rumo para Angola, entendendo o actual estado de coisas compreenderemos a importância que tem o exercício da cidadania, entendendo o actual estado de coisas valorizaremos muito mais a liberdade de expressão, de reunião e de imprensa, entendendo o actual estado de coisas saberemos que o voto deve ser consciente, entendendo o actual estado de coisas, muitas luzes se acenderão.
Se não conhecermos a nossa história corremos o sério risco de ficarmos alienados e propensos a aceitar tudo o que nos coloquem sobre a mesa. Claro que isto é inaceitável e nada tem de académico. Adicionado a isto, é o facto, que é do conhecimento geral, de que o nosso país tem particularidades invejáveis. Ora bem, a nação angolana é um mosaico de nações, do ponto de vista cultural e etnolinguístico. Somos realmente muito ricos! Sinto-me particularmente orgulhoso de possuir amigos, colegas de trabalho, familiares e vizinhos, de todas as nações que formam Angola. A outra particularidade da nossa terra é a riqueza natural! É sabido que o nosso subsolo é mais rico do que 1000 Bill Gates juntos.
Então, o que nos falta? Nos falta visão, nos falta interiorizar que a nossa grande riqueza é a pessoa humana, nos falta conceber um futuro risonho para as próximas gerações, nos falta habilidade para separar o privado do público, nos falta inverter a invertida pirâmide de prioridades, nos falta utilizar a nossa massa critica para o bem comum, nos falta criar instituições fortes e não homens fortes, nos falta cumprir o que está estipulado nas leis, nos falta perceber que o estado somos nós, nos falta acreditar em nós como motores da mudança, na verdade o que nos falta é sermos cidadãos de plenos direitos.
Pois é, meus caríssimos compatriotas, eu acredito numa Angola melhor e vós?
Este é o nosso momento.
Este é o nosso tempo!!!

Um comentário:

  1. Ideias frescas, o sonho em acção. O país que queremos precisa do contributo de todos, tem de ser o encontro de várias visões. E efectivamente este é o nosso tempo. O futuro pertence-nos na forma do sonho que sonhamos hoje. Por isso saúdo este espaço de partilha de sonhos.
    Isaquiel Cori

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